Submarino desaparecido e os refugiados: o que essas viagens têm em comum?

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Há poucos dias um submarino desaparecido durante uma expedição na costa canadense, em busca dos destroços do Titanic, tomou fama mundial. A viagem por trás do OceanGate cruzou os oceanos e repercutiu internacionalmente trazendo à tona outras histórias de viagens

Alguns bilionários optaram, por livre e espontânea “curiosidade”, embarcar em uma cápsula de poucos metros quadrados, em uma expedição exótica. A viagem tinha como destino visitar os destroços de um dos maiores símbolos do imaginário náutico mundial. Para quem não se recorda, o Titanic também foi uma espécie de expedição reunindo alguns dos maiores endinheirados da história. Tudo isso, em um momento parecido com esse, em que a curiosidade do homem era superior à tecnologia da época. 

Cerca de 250 mil dólares foram desembolsados, por cada um dos participantes, para uma viagem rumo ao incerto. Viajando em um submarino onde só poderia ser aberto por fora, utilizando um equipamento especializado. Os tripulantes perderam o contato com a base 1 hora e 45 minutos após descer nas profundezas do mar e a notícia veio à tona: mais um submarino desaparecido. Um excesso de confiança e um grande distanciamento da realidade se tornam palpáveis em mundo onde a desigualdade é maior que os oceanos que separam os continentes e realidades. Por dentro do submarino, pouco espaço e um estoque de oxigênio limitado, agravando ainda mais a situação.

Submarino desapareceu com 5 pessoas a bordo
Submarino desapareceu com 5 pessoas a bordo. Foto: Reprodução / OceanGate

A quantia, estimada em cerca de 1,2 milhão de reais, por pessoa, para uma viagem rápida de pouco dias. Poderia, não apenas satisfazer as regalias de bilionários curiosos, mas também resolver em boa parte a vida de algumas dezenas de imigrantes. 

Vocês devem lembrar da cena dos refugiados que morreram na praia, após um naufrágio em que pessoas tentaram cruzar da Síria para a Europa. A comoção grande, mas ainda tímida, não gerou a mesma repercussão na mídia da mesma maneira em que a “aventura” dos bilionários que tomaram conta das páginas de jornais e noticiários do mundo todo. 

Em um esforço reduzido, aos sírios, incluindo crianças, pouco se foi investido para um resgate e acolhimento digno. Para alguns uma aventura de férias, para outros uma viagem sinalizada como a última chance de ter uma vida relativamente melhor. 

Outras histórias além do submarino desaparecido

Em 2016, uma outra história serviu como uma denúncia à crise imigratória que percorre o globo. Na ocasião, ao menos 700 pessoas morreram no mar tentando cruzar da Líbia para a Itália, segundo levantamento da organização Médicos Sem Fronteiras. O número torna-se ainda mais preocupante, quando notamos que este volume de mortes ocorreu em apenas uma semana.

Alguns fatos colocam essa e outras histórias em comum, apesar de estarem separadas em quantias que dividem ambos em ‘castas’ com algumas dezenas de milhões de dólares de diferença. Ambas as histórias marcaram uma tragédia, não apenas para os envolvidos, mas para a humanidade como um todo. 

Qual será a prioridade do coletivo em um momento em que não temos tecnologia suficiente para um “bate e volta” ao espaço para garantir likes, selfies e manchetes de jornal. Mas que sobra em ciência para mitigar algumas questões ainda fundamentais para a humanidade, como o direito de comer, de morar em um lugar sem conflitos e o direito de ver as nossas crianças crescerem nutridas e saciadas. 

Mesmo que, tratando-se de vida, sabemos que nenhuma delas têm um preço, mas ainda assim algumas parecem ser mais valiosas que outras. E a falta de diálogo, reflexão e clareza, ainda permitirá mais histórias de viagens frustradas como essas, que fogem do lazer (ou umas férias perfeitas em família), tornando-se uma longa expedição ao desconhecido em busca de uma qualidade de vida melhor. E para algumas dessas pessoas, quase que predestinadas a uma jornada rumo ao impossível.

Enquanto não houver uma longa caminhada em direção à expansão da consciência e solidariedade, mais pessoas irão sucumbir, remar e morrer “na beira da praia”. O mesmo assunto pode ter como paralelo as pedras preciosas, os diamantes de sangue, o ouro, os garimpos e as comunidades tradicionais (e mais vulneráveis) que servem de alicerce ao luxo de uns, usando o suor e a vida de outros. 

Por mais que pareça distante, ambas as histórias, seja a expedição em busca do Titanic ou a dos refugiados, ambas se cruzam e podem ir além. Enquanto uns tomam vinhos premiados outros vivem em trabalhos análogos a escravidão. “E assim caminha a humanidade, em passos de formiga e sem vontade”, como dizia a canção. 

Até quando o banal será aplaudido? Até quando teremos palcos de privilégios para uns e porões para outros? Sendo esperançoso como gosto de ser, vejo que a humanidade ainda pode aprender com histórias e reflexões como essas. Mesmo que tardias, mesmo que sofridas. 

Há uma outra similaridade que navega por todas essas histórias, seja em botes salva-vidas, em submarinos milionários, em cruzeiros marítimos luxuosos como o Titanic ou em canoas artesanais na Amazônia. A água leva, mas também traz em suas afluentes sinais que lavam a alma dos que navegam. E, em todo porto, alguém parte e do outro lado da margem, famílias aguardam aflitas e esperançosas a chegada de quem partiu e não deu mais notícias.

Por dentro do submarino desaparecido

Em uma viagem exótica, 5 tripulantes desapareceram durante expedição em busca dos destroços do Titanic. Foram cerca de 1 hora e 45 minutos até o submarino perder contato com a base que seguia mapeando a expedição de forma remota. Por dentro do submarino da OceanGate, é possível notar que os espaços realmente pequenos. Pela estrutura limitada, os participantes ficam sentados no chão durante toda a viagem, olhando o fundo do mar em modestas janelas submersas na água. Veja as fotos de como é o submarino por dentro para ter uma ideia de como as viagens são operadas.

Texto: Gustavo Albano

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