Hurb: turistas entram na justiça para conseguir viajar
Turistas que estão se sentido lesados pela empresa Hurb estão recorrendo à justiça para conseguir viajar. Muitos ainda aguardam decisão.
Quando a empresária paranaense Mariana Neves decidiu comemorar os 15 anos de casamento em uma viagem à Turquia, não imaginou que teria tantas dores de cabeça. Apesar de nunca ter comprado no site do Hurb, ex-Hotel Urbano, achou os valores atrativos e decidiu investir R$ 7.300,00 em um roteiro de oito dias passeando por Istambul e Capadócia. Como não obteve retorno da empresa dentro do prazo estabelecido, ela entrou em contato para sugerir outras datas. Foi quando percebeu que algo estava errado e decidiu entrar na justiça.
Assim como Mariana, dezenas de clientes que compraram pacotes de viagem do Hurb têm acionado o Poder Judiciário para que a empresa cumpra com o contrato e eles consigam o direito de realizar as viagens adquiridas. Alguns consumidores conseguiram embarcar após determinação judicial, mas muitos outros ainda aguardam o envio das passagens aéreas e reservas de hotel. Veja mais detalhes e
No caso de Mariana, a empresa foi obrigada pela justiça a disponibilizar uma nova data de viagem em 10 dias úteis, prazo que se encerrou em 27 de abril.“Minha esperança e expectativa de viajar estão cada dia menores. Nem que me coloquem na primeira classe e no melhor hotel eu viajaria com o Hurb de novo. Se eu não tivesse com esse dinheiro parado, poderia planejar outra viagem”, afirmou a empresária paranaense ao site UOL. No momento, ela considera requerer uma multa para garantir que a empresa cumpra a decisão judicial, e uma indenização por danos morais.
Clientes se unem nas redes sociais contra o Hurb
Clientes do Hurb estão usando as redes sociais para se unirem contra a empresa. Em grupos do Facebook, o maior deles com cerca de 36 mil pessoas, eles compartilham histórias e informações sobre seus processos. Além disso, recomendam que os outros consumidores registrem reclamações em sites de direito do consumidor e juntem provas para acionar a justiça. A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) já recebeu, somente neste ano, mais de 11 mil reclamações.
A decoradora de eventos Bruna Caroline Amaro é uma das consumidoras insatisfeitas do grupo do Facebook. Ela e uma amiga compraram um pacote para Dubai por cerca de R$ 4.000,00, mas alegam que nenhum funcionário do Hurb entrou em contato dentro do prazo estabelecido. A empresária decidiu entrar na justiça, mas teve o pedido de liminar negado pelo Tribunal de Justiça de Foz do Iguaçu (PR), onde ela vive. Atualmente, está com uma audiência de conciliação marcada para o dia 12 de junho.
Bruna também comprou pacote de R$ 4.300,00 para a Grécia, com datas sugeridas para o segundo semestre. “Eu ainda não sei o que faço, se continuo pagando as parcelas [R$ 600 no total]. Eu estou tomando remédio controlado para dormir. Sou autônoma, não consigo me programar assim. Tem sido difícil conseguir trabalho. Minha vida está um caos financeiro”, declarou ao site UOL.
A empresa de viagens Hurb disse que não comenta processos e ações em andamento, mas que está “à disposição das autoridades para prestar quaisquer esclarecimentos”. Em entrevista ao UOL, a diretora de comunicação da agência de viagens, Ana Carolina Feliciano, prevê que os clientes com problemas embarquem até o fim deste ano.
Entenda o que está acontecendo com o Hurb
No final de abril de 2023, começou a circular na internet um vídeo mostrando o ex-CEO do Hurb, João Ricardo Mendes, insultando e ameaçando um consumidor insatisfeito com um pacote de viagens que havia adquirido. A ampla divulgação desse vídeo polêmico teve consequências negativas para a empresa, resultando na renúncia e afastamento do seu cofundador.
Em pouco tempo, surgiram milhares de denúncias, tanto de turistas, quanto de fornecedores. Vários hotéis também divulgaram comunicados informando que não receberiam mais clientes do Hurb devido à falta de pagamento. De acordo com a própria empresa e em uma matéria publicada no jornal O Globo, o montante total dos pacotes de viagens e diárias de hotéis em atraso é de R$ 140 milhões.
Em nota, os executivos do Hurb também anunciaram que Otávio Brissant assumiu o cargo de CEO da agência de viagens imediatamente após a saída de João Ricardo. E, como medida para reverter os problemas decorrentes da atual crise da empresa, a organização está constituindo uma força-tarefa para resolver as queixas. Apesar disso, milhares de turistas estão tendo que recorrer à justiça para tentar reaver o investimento realizado ou a concretização da viagem.
É seguro viajar com o Hurb – Hotel Urbano?
Apesar de possuir mais de 12 anos de história no mercado e ter trocado o CEO da empresa recentemente, a crise vivida pelo Hurb é muito maior, pois envolve dívidas na casa dos milhões com fornecedores. Os problemas começaram logo após a pandemia – período em que a empresa vendeu muitos pacotes com valores baixíssimos. Com o aumento das denúncias, um número inesperado de turistas ainda estão pedindo reembolsos com receio de perderem a viagem.
Em 2022, com o relaxamento das medidas sanitárias, as pessoas voltaram a viajar e as companhias aéreas não davam conta de atender a demanda, encarecendo os preços das passagens já vendidas pela agência de viagens. Com isso, o Hurb não encontrava bilhetes nas companhias aéreas para encaixar seus clientes e as viagens começaram a ser alteradas para datas à frente, acumulando-se. Profissionais do setor e turistas alegam nessa prática uma espécie de “pirâmide financeira”, prejudicando ainda mais a imagem e a credibilidade da empresa.
E mesmo após as polêmicas, a agência continua funcionando sem restrições. A única cobrança da justiça é para que a empresa cumpra as condições ofertadas. Segundo nota do Hurb, divulgada no site UOL, a empresa afirma que “o setor de turismo vem enfrentando uma grande instabilidade na relação ‘oferta x demanda’, com redução da malha aérea e a indisponibilidade de tarifário promocional”.
Atualmente, muitos clientes só estão conseguido viajar por meio de liminar judicial e as reclamações só aumentam nas redes sociais e em sites de reclamação. Somente no Reclame Aqui, são mais de 29 mil denúncias nos últimos seis meses.
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