Nômades digitais: países oferecem vistos especiais para trabalhadores remotos
Nômades digitais: mais de 25 países já lançaram seus programas de vistos para atrair profissionais estrangeiros que adotaram o home office
Já pensou em trabalhar em qualquer lugar do mundo conhecendo novos lugares, culturas e vivendo diversas experiências? Estes são alguns dos atrativos procurados pelos nômades digitais, profissionais que exercem suas atividades laborais em qualquer lugar, sem precisar necessariamente de uma estrutura fixa.
O home office, que inclui o desempenho das funções em casa ou em outros locais que não sejam a empresa, já é há muito tempo uma realidade para alguns profissionais, principalmente da área de tecnologia e freelancers, por exemplo. No entanto, essa modalidade ainda era uma utopia para muitos outros trabalhadores até o início da pandemia de COVID-19.
Mais de 7,9 milhões de pessoas adotaram o trabalho remoto no Brasil em 2020, quando a crise sanitária se espalhou no Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na publicação da pesquisa PNAD COVID 19. Em dados mais recentes, divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em maio de 2022, uma a cada quatro pessoas poderia trabalhar de forma remota no Brasil, isso equivale a 20,4 milhões de pessoas, que representam 24,1% do total da população do país.
Com a tendência de crescimento da modalidade de trabalho e de exercer e adaptar funções com o uso da internet, veio também a possibilidade de trabalhar não só de casa, mas também viajando por qualquer outro lugar do mundo. Geralmente, com um computador e o acesso à internet o profissional pode trabalhar em um hotel em Bali, em um café de Paris ou em uma praia da Califórnia, não importa a localização. Dessa maneira, é fácil entender porque o nomadismo digital é tão atrativo.
O desafio da liberdade geográfica
Mesmo com todas as vantagens do trabalho remoto, nem sempre é possível sair do território nacional, já que existem questões trabalhistas e regulamentos internos das companhias brasileiras que podem dificultar que os profissionais atravessem as fronteiras. Além disso, existe a questão da entrada e permanência desses profissionais em outros países.
A boa notícia para quem procura por esse estilo de vida é que as políticas migratórias de vários países estão mudando para se adaptar e oferecer vistos especiais para acolher os nômades digitais. E isso não é simplesmente um benefício para os trabalhadores ou para empresas. De acordo com o Relatório Global de Tendências Migratórias 2022, do Instituto de Políticas Migratórias, nos Estados Unidos, atrair trabalhadores remotos internacionais pode promover o desenvolvimento econômico nas comunidades rurais e fomentar o empreendedorismo em várias regiões, além de atrair talentos para o local, por exemplo.
Mas existe o outro lado, que deve preocupar os governos, como os custos para estabelecer e administrar uma nova via de imigração, a demanda para infraestrutura desse novo público e o perfil de trabalhadores que podem utilizar este caminho.
Ainda de acordo com o Instituto, mais de 25 países e territórios já lançaram um visto específico para os nômades digitais, entre eles Brasil, Grécia e Malta. Porém, cada lugar tem suas exigências para conceder a autorização, a maioria solicita comprovação de renda durante a estadia, seguro viagem e comprovante do trabalho remoto. O tempo de permanência no país e a possibilidade de renovação do visto também variam.
Destinos facilitam entrada de nômades digitais
Mas não existem apenas regras e exigências, há também lugares que oferecem facilidades para os nômades digitais, como Zadar, na Croácia, que disponibiliza um pacote de acomodação, espaço de coworking gratuito e eventos para os trabalhadores remotos.
Em entrevista para a BBC News, o professor Prithwiraj Choudhury, que pesquisa o futuro do trabalho remoto na Harvard Business School, nos Estados Unidos, esclareceu que economias maiores poderão oferecer vistos para nômades digitais em breve, para manter a competitividade e ressalta que as vantagens locais poderão ser um bom atrativo.”Antes, quem costumava lutar pelos talentos eram as empresas. Agora, os países e as regiões também lutam por esses talentos”.
Ainda em período de estudo, muitos países estão formatando o visto para os nômades digitais, como é o caso da Itália, que tem se baseado nas políticas de outros lugares para criar seu próprio programa. No momento, muitos profissionais aplicam o visto de turista para entrar no país, mesmo com a intenção de ligarem seus computadores para o trabalho remoto entre um ou outro passeio, e essa cena se repete em outros lugares que ainda não definiram um visto especial para esse público.
Outro fator que talvez impeça a adesão ao visto especial para trabalhadores remotos é a comprovação do valor de renda e alguns critérios de exigência, motivos que talvez faça com que esse profissional prefira outro tipo de visto, como o de turista.
Como funcionam os vistos para trabalhadores remotos?
Os vistos destinados aos nômades digitais permitem que pessoas residam e trabalhem remotamente em um país por um período limitado de tempo, desde que atendam às condições das políticas migratórias do país de destino.
Geralmente, o visto dá permissão para residir e trabalhar remotamente para um empregador sediado fora do país, com uma estadia limitada entre três meses como em Aruba, ou até dois anos como em Antígua e Barbuda. Existe a possibilidade de renovação, mas geralmente a intenção é que os trabalhadores retornem ao país de origem após o período concedido inicialmente.
Entre os documentos exigidos, podem ser solicitadas cartas do empregador. Alguns países também permitem que os freelancers apenas apresentem uma prova de que os seus clientes estão localizados fora do país de destino. A comprovação de renda suficiente para se manter durante a estadia e o seguro saúde também são itens pedidos pela imigração.
Os nômades digitais podem usar os vistos de duas formas: para visitar um país e trabalhar remotamente por um curto período de tempo ou quando desejam se mudar para outro país por um período maior (vários meses, por exemplo).
Conheça alguns lugares que já oferecem a permissão de entrada e estadia para nômades digitais:
Argentina
Lançado em maio de 2022, o programa permite que trabalhadores remotos permaneçam no país por 180 dias. Entre os documentos exigidos estão uma cópia do curriculum vitae e documentação que comprove a atividade exercida. Não é exigido comprovantes de renda.
Mais informações sobre o programa estão publicadas na página de migração argentina.
Croácia
Para aplicar o visto é preciso ter uma renda mensal estável de cerca de 2 mil e 300 euros por mês (aproximadamente 11 mil reais) e ser autônomo ou freelancer fora do país croata. Entre os benefícios estão a isenção de pagamento de impostos, a permanência mais longa no país (período de um ano) e a possibilidade de aplicar para uma cidadania croata.
Para saber mais sobre este visto, consulte a
Curaçao
Para os que querem trabalhar remotamente no destino caribenho, é permitido ficar na ilha com o visto de trabalhador remoto por 6 meses, com a possibilidade de renovar a permanência por mais 6 meses. É exigido uma declaração do empregador ou cópia do contrato de trabalho.
Na página do programa At Home in Curaçao é possível saber mais.
Hungria
Um dos países europeus a adotar o visto para nômades digitais, a Hungria oferece a permanência de um ano para trabalhadores de empresas fora do país, com a possibilidade de renovação do mesmo período.
Para ter o “White Car” é preciso comprovar uma renda mensal de 2 mil euros mensais (cerca de 10 mil reais) e documentos que demonstrem o recebimento deste valor até 6 meses antes da aplicação do visto. Um dos benefícios do visto é o livre acesso aos países que fazem parte do Espaço Schengen, como Áustria e Suécia.
Todos os detalhes estão publicados na página do programa de visto húngaro.
Grécia
O visto para trabalhadores remotos na Grécia permite a permanência por um ano no país, podendo ser renovado por até três anos. Quem quiser trabalhar em meio às paisagens gregas, precisa provar que possui recursos financeiros suficientes durante a estadia ou um salário de pelo menos € 3.500 euros por mês (cerca de 18 mil reais).
Para ver mais informações, acesse a página da Embaixada da Grécia no Brasil.
Dubai
Dedicado aos estrangeiros que são empresários ou empregados de uma empresa
fora dos Emirados Árabes Unidos, Dubai oferece um ano de residência aos trabalhadores remotos. O programa concede acesso a todos os mesmos serviços disponibilizados aos residentes, incluindo telecomunicações, serviços públicos e ensino.
Todos os critérios de elegibilidade do visto estão na
Estônia
Primeiro país a disponibilizar o visto para nômades digitais em 2019, a Estônia é uma das únicas localidades que permite que os titulares do visto se envolvam em algum trabalho local, desde que o trabalho remoto permaneça o objetivo principal da estadia. É possível ficar no país por até um ano.
Os detalhes sobre o visto estão na página do programa Digital Nomad Visa.
E você, pensa em trabalhar como nômade digital em algum desses países?
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