Casal leva filhos para viajar o mundo antes que fiquem cegos

Com o objetivo de criar memórias visuais nos filhos que ficarão cegos, casal decidiu viajar o mundo por um ano, passando pelas paisagens mais belas

Três dos quatro filhos de Edith Lemay e Sebastien Pelletier têm uma condição genética que resulta na perda da visão. Ao receber o diagnóstico e antes que os filhos fiquem cegos, o casal decidiu viajar o mundo para criar memórias visuais nas crianças. Para isto, escolheram lugares surpreendentes com as paisagens mais lindas. E compartilham a experiência nas redes sociais, em postagens emocionantes.

A viagem deve durar um ano e começou em março de 2022. Inicialmente, os planos eram partir para a jornada em 2020, mas não foi possível por conta da pandemia. Nesses dois anos, eles realizaram trilhas e passeios pelo Canadá, onde vivem. Agora, já viajam faz seis meses e estão na Indonésia, conhecendo suas praias paradisíacas.

Viajar o mundo com os filhos

A ideia de viajar o mundo antes que os filhos fiquem cegos começou a ser posta em prática depois de uma conversa com um especialista que os aconselhou a criar memórias visuais nas crianças. O casal, no entanto, já planejava mostrar diferentes culturas para seus filhos antes mesmo de se tornarem pais. E, com o diagnóstico, isso passou a fazer muito sentido, tornando o projeto mais urgente.

Em entrevista ao portal Le Presse, do Canadá, Edith contou que não queria que os filhos tivessem memórias mais vivas, experiências. “Pensei: ‘Não vou mostrar a ela um elefante em um livro, vou levá-la para ver um elefante de verdade e vou encher a memória visual dela com as melhores e mais belas imagens que puder'”, disse a mãe.

Além disso, o casal queria que as crianças conhecessem outras culturas, para ver como as pessoas são diferentes e podem ser felizes com suas particularidades. “Acima de tudo, não quero dizer a eles que é sério, que vai limitá-los. Eu quero que seja parte de quem eles são, que seja normal, que eles saibam que vão fazer o que querem. É o caminho deles. Eles terão sucesso”, revelou Edith.

Memórias visuais

A viagem pelo mundo da família Pelletier começou em março deste ano. Desde então, o casal e seus filhos já passaram por Namíbia, no sudoeste da África, Zâmbia, Tanzânia, Turquia e Mongólia, onde ficaram por mais de 30 dias. Atualmente, estão nas praias paradisíacas da Indonésia. O roteiro ainda inclui São Petersburgo, China, o Sudeste Asiático, Sri Lanka, Tanzânia e Marrocos.

O objetivo é mostrar o que há de mais belo no mundo aos filhos antes que fiquem cegos. Por isso, os planos de viagens incluem paisagens incríveis, com montanhas majestosas e pores de sol fantásticos, culturas diversas e animais que povoam os livros infantis, como elefantes e leões. E o casal está conseguindo realizar tudo isso com êxito.

Compartilhando momentos

Nas redes sociais, Edith e Sebastien compartilham os momentos dos filhos durante a viagem. Eles criaram um perfil no Instagram e uma página no Facebook chamada Le monde plein leurs yeux, ou o mundo pelos seus olhos, em tradução literal. E, por meio de fotos e vídeos, já mostraram as crianças escalando a superfície de enormes rochas da Namíbia e dormindo sob um céu estrelado em Gobi. Além disso, compartilharam momentos de brincadeira dos filhos em piscinas de água doce na Tanzânia e nas piscinas em camadas da encosta da montanha na Turquia.

As últimas postagens mostram as crianças se divertindo nas belas praias da Indonésia. E a ideia é justamente compartilhar esses momentos e também fazer reflexões sobre os lugares, suas culturas e a experiência que a família vive antes que os filhos fiquem cegos. “Aqui, sem aviso, Laurent acabou de fazer uma pergunta que dói: ‘o que significa ser cego?’. Sabemos que estava para vir, mas nunca estamos realmente preparados, mesmo que a seja a terceira vez”, diz a legenda de um dos post. 

Antes que fiquem cegos

Mia, Leo, Collin, Laurent, de 11, 9, 6 e 4 anos, respectivamente, são os filhos de Edith e Sebastien. Somente Leo não possui a condição hereditária e degenerativa que causa a cegueira, chamada retinite pigmentosa. Em entrevista à “CTV News”, o casal contou que a filha mais velha, Mia, começou a apresentar problemas de visão aos 3 anos e, anos mais tarde, recebeu o diagnóstico definitivo.

A doença começa a se manifestar na infância e leva à perda ou declínio da visão ao longo do tempo. Colin e Laurent também apresentaram sintomas semelhantes à Mia e, em 2019, houve a confirmação de que os irmãos tinham o mesmo problema genético.

Atualmente, não há cura ou tratamento para retardar a progressão da doença, segundo a família, e a deterioração da visão dos três filhos deve piorar na adolescência. Por isso, se tornou tão urgente viajar o mundo com eles agora. “Não há nada que você possa realmente fazer. Não sabemos o quão rápido isso vai acontecer, mas esperamos que eles fiquem completamente cegos na meia-idade”, disse Edith na entrevista.

Em sua última publicação, a família compartilhou uma reflexão sobre a passagem do tempo, ao chegar aos seis meses de viagem pelo mundo com seus filhos. “Louco como o tempo passa tão rápido e devagar. Parece que partimos ontem, mas ao mesmo tempo vivemos tão intensamente que parece que viajamos por anos. Uma coisa é certa, há menos adiante do que atrás, mas ainda temos seis lindos meses para viver plenamente nossas descobertas”, afirmou.