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O brasileiro não conhece o Brasil, mas deveria

11-Jul-2020
Redação | GuiaViajarMelhor.com

Brasil 11-Jul-2020

Viagens nacionais: o Brasil é considerado um dos melhores destinos do mundo para viagens na natureza, mas não é só isso…

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Eu sei, viajar pelo Brasil pode ser caro, às vezes sai mais em conta viajar para algum destino do exterior. As hospedagens têm um valor elevado por aqui e o preço das passagens pode ser um pouco desmotivador. Somos um país grande! O Reino Unido é praticamente do tamanho do Estado de São Paulo (apenas um dos 26 que temos, além do Distrito Federal). Mas, sempre que puder, você deveria valorizar o turismo doméstico, não apenas para ajudar as comunidades e a economia nacional, – o turismo é uma das indústrias que mais permite a distribuição de renda no país, uma indústria sem chaminé e quase sempre sustentável.

A maioria dos viajantes brasileiros residem nas grandes capitais, onde a economia gira de forma mais consistente do que no restante do país. Entretanto, são esses mesmos viajantes que distribuem a renda quando estão de férias e isso vai desde os taxistas, feiras de artesanato a pequenos restaurantes. Quando a gente viaja, temos a chance de melhorar a economia de pequenas cidades através dessa paixão que temos em comum: viajar.

Rio Arapiuns, durante a viagem de fim de ano organizada pela empresa AMZ Projects. Foto: Gustavo Albano

Mas não é só pela economia da sua nação que você deveria incluir os destinos nacionais em sua rota. É por você! O que não falta são lugares lindos no Brasil. Quando a música diz que temos um país “abençoado por Deus e bonito por natureza”, não é exagero. Jorge Ben provavelmente entenderia o que eu estou dizendo. Esse país, encravado no coração da América do Sul, o único que fala português e o único com dimensões que corresponde praticamente a metade do continente, tem muito mais para oferecer, além do Carnaval (que saudade!) e dos diferentes sotaques e dialetos, aqui quem manda (por enquanto) é a natureza, a diversidade e a alegria do povo que insiste em não desistir nunca (ainda bem!).

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Viagens no Brasil: você vai se apaixonar pelo seu país

Provavelmente você conhece sobre esses aspectos na teoria, mas será que já viajou o suficiente pelo seu próprio país? Antes de eu embarcar para além das fronteiras, eu tinha uma paixão antiga: conhecer o país onde eu nasci. Não foi fácil e ainda me faltam alguns lugares, mas posso dizer que já passei por mais da metade dos Estados brasileiros e posso afirmar: essa foi a melhor coisa que eu fiz.

Afinal, seria difícil ousar conhecer outro país sem ao menos entender um pouco mais sobre o meu quintal. De qualquer forma, eu posso dizer, ele é grande e incrível na mesma dimensão.

Durante a travessia na Ilha Grande, entre o mar e as montanhas da Mata Atlântica. Foto: Gustavo Albano

Difícil você achar algum lugar no mundo tão diverso e surpreendente quanto o Brasil. O Pará foi uma das maiores surpresas quando eu escolhi viajar pelo Brasil durante quase dois anos, por terra e por água. Quem imaginaria que há um lugar no Brasil que existe mais búfalos do que habitantes?

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A Ilha do Marajó poderia ser a nossa Índia, não pela parte espiritual, mas pelo lado exótico e marcante. Do outro lado da Ilha, temos Afuá, uma pequena cidade conhecida como a “Veneza da Ilha do Marajó”, por ali, só se anda de bicicleta pelas pontes suspensas em palafitas ou em pequenos barcos.

O Arquipélago de Anavilhanas, no Amazonas, deixa qualquer safári gringo no chinelo! Acho difícil encontrar um céu mais limpo do que na Amazônia. Quando cruzei de Belém a Manaus de barco, dormindo na rede durante alguns dias, parecia que o barco estava navegando entre as estrelas.

Pausa para o almoço, admirando parte do Arquipélago de Anavilhanas. Foto: Gustavo Albano

Há viagens que não tem como explicar. Parafraseando Mario Benedetti, o poeta uruguaio, “você não vai acreditar no que te contam do mundo (nem isso que eu estou te contando), já te disse que o mundo é incontável”.

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Nosso ícone das expedições independentes já disse algo sobre isso também, durante a travessia que fez em um barco, viajando da África até a Bahia, sozinho. “Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu.” Esse trecho é do livro Cem Dias Entre o Céu e o Mar, do escritor e navegante Amyr Klink. Meu herói!

Paisagens da Amazônia, admirando uma casa ribeirinha entre os açaizeiros. Foto: Gustavo Albano

Você deveria viajar mais por aqui

Eu segui essas recomendações à risca quando larguei minha vida cômoda (e entediante), na cidade operária localizado no ABC Paulista. Foi minha melhor decisão. Posso dizer que aprendi mais viajando do que em qualquer faculdade. Há certas experiências que o mundo acadêmico pode até sugerir através de livros, mas só percorrendo as cidades de

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Minas Gerais que eu pude entender a vida e a obra de Aleijadinho, além de ver de perto o que foi a escravidão neste país (56,10% da população do Brasil se declara negra, segundo publicado na Revista Piauí). Eu acho que são mais! Salvador, conhecida como a Roma Negra, é um exemplo disso, a cidade mais negra do Brasil.

Ouro Preto, talvez a mais famosa das cidades históricas de Minas Gerais. Foto: Gustavo Albano

Você percebe sobre o peso histórico e desigual desse país, quando visita Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros. Poucos turistas sabem, mas ali está uma das últimas comunidades quilombolas descoberta no Brasil, em 1989, 101 anos depois da Lei Áurea. Os povoados kalungas do Engenho II, Vão do Moleque e Vão das Almas, eram praticamente um pedaço da África perdido há mais de 30 anos atrás, no coração do cerrado brasileiro.

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Nenhum professor de história soube me ensinar isso, eu encontrei eles no meio do caminho em uma viagem para conhecer a magnífica cachoeira de Santa Bárbara. Depois disso, aquela cachoeira de águas azuis manteve seu encanto, mas nada se compara ao que aprendi naquele dia, almoçando na comunidade quilombola e ouvindo aquelas histórias como testemunha de como este país é complexo.

Almoço na comunidade quilombola em Cavalcante, Goiás. Foto: Gustavo Albano

Descubra o seu próximo destino

Pois é, o mesmo país que tem a maior comunidade de japoneses fora do Japão (Bairro da Liberdade, em São Paulo), tem um pedaço da África pulsando em terreiros, batendo tambores e fazendo a energia dessas terras vibrar. Ainda assim, tem algumas pencas de descendentes de italianos, alemães e poloneses no extremo sul do Brasil.

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Quem souber me explicar como esse país conseguiu abrigar tanta diversidade, ganha um doce de espécie, direto de Alcântara, no Maranhão. Aquele mesmo que foi criado especialmente para Dom Pedro II, naquela visita que não ocorreu. Azar o dele, eu provei!

Cachoeira do Salto, em São Jorge, Goiás. Foto: Gustavo Albano

É, Aldir Blanc, “o Brazil não conhece o Brasil”, mas deveria. Também concordo quando você diz que o “Brazil não merece o Brasil” e que, infelizmente, o “Brazil está matando o Brasil”. Eu acho que é por falta de informação, educação, cultura. Nós não temos ideia do quanto a gente perde com isso.

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Enquanto isso, os católicos, os moradores, os turistas e os adeptos do candomblé lavam as escadarias da Igreja do Bonfim, em Salvador, que acontece todos os anos depois do Dia de Reis (em janeiro). Eu confesso que nunca fui nessa celebração histórica, que ocorre desde 1773, assim como eu nunca segui o “Olodum balançando o Pelô”. Desculpe por isso, Caetano, mas essa viagem também está na minha lista.

Vista aérea do centro histórico de Paraty. Foto: Gustavo Albano

Talvez uma vida inteira não seja suficiente para conhecer e entender a grandeza deste Brasil. Eu sei, provavelmente eu teria que dedicar minha vida toda a viajar. Mas, enquanto isso, minha lista de destinos nacionais vai aumentando e eu vou riscando essa lista conforme eu conseguir.

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A cada ano eu reduzo um pouco, ainda me falta um Carnaval nas ladeiras de Olinda, ainda me falta dançar com o Caprichoso e o Garantido, no Festival de Parintins. Também quero, um dia, pegar a Rio x Bahia de carona. Conhecer a comunidade de albinos da Ilha dos Lençóis, no Maranhão, ficar uns dias descendo o Rio Xingu de canoa, visitar uma comunidade Kayapó no Pará e aprender mais um pouco com eles.

Crianças posando para a foto na Comunidade de Anã, no Pará. Foto: Gustavo Albano

Quem nunca ouviu a sanfona tocar no Ceará, quem nunca dançou carimbó no Pará, quem nunca cirandou ao som de Lia de Itamaracá, provavelmente não vai entender sobre a história de Lampião, não vai saber onde fica Mangue Seco, talvez até perderia o direito de se banhar nas águas do Rio São Francisco e nas cachoeiras do Cerrado.

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O brasileiro deveria, ao menos uma vez, olhar este país com olhos de estrangeiro, para valorizar nossa tapioca, nosso acarajé, nossa moqueca, nosso feijão carioca e tomar o verdadeiro açaí no Ver-o-Peso.

Cores e ancestralidade na comunidade Dessana, no Amazonas. Foto: Gustavo Albano

Certamente a lista é grande, igual as dimensões que este país tem. Ela é muito maior do que eu poderia citar nessas linhas, mas assim que a quarentena acabar eu vou recorrer esse país de novo.

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Portanto, se você tem esse mesmo desejo que eu, é uma boa viajar por aqui. Ver de perto alguma festa tradicional, comer fruta do pé, dar um mergulho no mar, tomar um banho de rio ou de cachoeira, pois, apesar dos pesares, não existe melhor lugar no mundo do que o nosso lugar. É, o brasileiro deveria conhecer o Brasil.

Preguiças sorridentes encontradas ao longo do Rio Mamori, no Amazonas. Foto: Gustavo Albano

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