Brasileiros relatam situação do coronavírus em Bariloche: quando poderemos viajar novamente?

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Brasileiros que vivem em Bariloche e trabalham com turismo falam sobre a situação do coronavírus na cidade argentina e o futuro do turismo

Bariloche é a cidade queridinha dos brasileiros na Argentina. Seja no inverno ou no verão, o charmoso destino oferece belas paisagens, atividades para toda a família, infraestrutura impecável e uma ótima gastronomia. 

Com os avanços da COVID-19 na América Latina, no entanto, muitos brasileiros tiveram que abrir mão do sonho de conhecer suas montanhas geladas. Mas afinal, como está a situação da pandemia na Argentina e, mais especificamente, Bariloche? E quando será possível viajar novamente para os destino turísticos argentinos?

Com fronteiras ainda fechadas, a Argentina realiza, aos poucos e gradualmente, uma reabertura. Algumas províncias, inclusive, chegaram a reiniciar o turismo interno. Não é o caso de Bariloche que, apesar de poucos casos, ainda apresenta casos de transmissão comunitária. 

No entanto, a cidade se prepara para uma nova normalidade, mais segura e preparada para receber turistas brasileiros. Para entender melhor esse processo, entrevistamos Alejandro Sainz de Vicuña e Sabrina Sainz de Vicuña, que estão à frente do blog Bariloche para Brasileiros e da Agência Destino Sul, especializada em receber brasileiros na região, para falar sobre a situação sob a visão de quem vive na cidade. 

Brasileiros relatam situação do coronavírus em Bariloche

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Foto: Divulgação

Guia Viajar MelhorPode dizer como está a situação atual no sul da Argentina (Bariloche) na visão de um morador? Houve ação efetiva e mudanças drásticas vindas do governo local nos últimos meses?

R: As mudanças drásticas vieram mais no começo e coordenadas pelo Governo Federal. Foi um lockdown em todo o país, só com serviços essenciais. Só saíamos de casa para ir à farmácia ou mercado e nas proximidades.

A situação da pandemia na Argentina é muito variada de acordo com cada província e cidade, mas Buenos Aires é o grande foco. Até o momento, quase 90% dos casos confirmados estão condensados na província de Buenos Aires, a grande maioria na capital. Dadas as devidas proporções, Buenos Aires seria a nossa “Wuhan”. Por outro lado, cerca de metade das províncias argentinas não apresentaram novos casos, e muitas cidades não têm novos casos há semanas. 

A província de Río Negro, onde está localizada Bariloche, é a terceira província com mais casos confirmados, após Buenos Aires e Chaco. Mas como a pandemia está muito concentrada em Buenos Aires, Río Negro totaliza apenas pouco mais de 1% dos casos confirmados do país. Ou seja, as outras 20 províncias estão abaixo desse percentual. As demais províncias da Patagônia, como Neuquén, Chubut, Santa Cruz e até La Pampa, que tem uma parte da Patagônia, estão em melhor situação que Río Negro.

Para falar de como os governos (federal, provinciais e municipais) atuaram nos últimos meses, é preciso levar em conta que isso foi feito de modo progressivo. No início, claro, o Governo Federal centralizou tudo e coordenou um lockdown em todo o país. Ainda não tínhamos a informação que temos hoje. Então, se você está na escuridão total, você pára completamente até poder se orientar. Após esse estágio inicial, o Governo Federal foi percebendo a diversidade da situação em cada região do país e o foco em Buenos Aires e aí começou a descentralizar mais as decisões, mas ainda coordenando tudo.

Assim, em Bariloche, estamos hoje numa fase 3 de 6 fases do plano da municipalidade para reabertura. Há comércios não essenciais abertos, com horários reduzidos e estritos protocolos sanitários. Restaurantes com delivery e take away, mas já iniciaram o ensaio uma reabertura para o público comer no local. Academia e piscinas também. As estações de esqui e centros invernais estão todos fechados, mesmo para os residentes. No Cerro Catedral, só a base está acessível, mas nenhum meio de elevação para a montanha funciona. Esportes individuais estão permitidos com o devido distanciamento social, mas não nas montanhas, para evitar acidentes e consequente ocupação de vagas nos hospitais. Recentemente estávamos saindo de casa só em dias alternados, conforme o número final do documento de identidade ser par ou ímpar. Isso acabou. No domingo, todo o comércio está fechado.

Muitos pensam que a Argentina vive um lockdown total até hoje. Não é bem assim. Buenos Aires vive isso. Flexibilizou um pouco, mas teve que voltar atrás quando a situação piorou. Bariloche, apesar dos poucos casos, ainda tem transmissão comunitária e é uma das cidades com os piores números na Patagônia. No entanto, o sistema de saúde nunca esteve perto de colapsar e segue assim. Em outras regiões do país já existe até turismo doméstico e permissão para reuniões sociais com até 10 pessoas. Não é o caso de Bariloche. De qualquer forma, as fronteiras argentinas seguem completamente fechadas.

Guia Viajar Melhor Vimos que desde o início o Governo Federal da Argentina soube controlar muito bem a situação, como vocês viram essas práticas sendo aplicadas no dia a dia?

R: O Governo Federal agiu bem. Centralizou as decisões no começo, fez o lockdown, e depois quando percebeu a situação em cada região do país, descentralizou mais as decisões, mas ainda coordenando e embasando os protocolos. Em Bariloche, a rotina vem progredindo do lockdown inicial a sucessivas e graduais aberturas. Ainda não demos nenhum passo atrás, mas porque tudo vem sendo feito de modo lento e gradual.

Guia Viajar Melhor A população, de forma geral, respeitou as normas de distanciamento social e demais restrições? Como tem sido sua vida pessoal nesses últimos dois meses?

R: A população de Bariloche tem respeitado, de modo geral, as regras da quarentena. Nas ruas, as pessoas estão de máscaras, respeitando o distanciamento social. Desde que o comércio reabriu com restrições e protocolos não houve problemas. Mas também há casos isolados de aglomerações não permitidas, como para um “asado” e confraternizações, como no dia dos pais. As dificuldades que apareceram em controlar o vírus, vieram principalmente de situações como estas.

Guia Viajar Melhor O país já começou a sentir o impacto e os benefícios da paralisação temporária? Se sim, como está ocorrendo esse retorno à normalidade?

R: O combate à pandemia funcionou melhor na Argentina do que em países como o Brasil principalmente por ser uma ação coordenada dos governos, mais vertical no começo e mais descentralizada depois. Quando fizemos um lockdown, fizemos um lockdown. Fazer a coisa direito desde o começo faz toda diferença. Foi muito difícil, mas hoje avançamos gradualmente em uma flexibilização que é real e responsável. 

Não estamos flexibilizando por impaciência, porque já cansamos de ficar em casa, ou por causa da pressão para reaquecer a economia. Estamos flexibilizando porque existe um sucesso gradual na contenção e controle do vírus. Assim vamos retornando aos pouquinhos à normalidade ou à nova normalidade. No fim, isso é o melhor tanto para salvar vidas, como para recuperar a economia. O turismo precisa de um ambiente de confiança para acontecer e Bariloche é uma cidade que depende completamente do turismo, direta ou indiretamente.

Guia Viajar Melhor Poderia detalhar como está sendo esse processo para a reabertura do turismo interno do país neste primeiro momento?

R: Como o mapa de contaminação é muito diferente no país, em muitas províncias já se iniciou o turismo interno. Salta, Mendoza, San Luís, San Juan e recentemente Catamarca e Tierra del Fuego. Jujuy foi a primeira de todas, mas precisou voltar atrás com uma nova onda de casos. Infelizmente Bariloche ainda não pode reabilitar o turismo interno. Apesar de poucos casos e um sistema de saúde com folga em sua capacidade, ainda temos transmissão comunitária.

Guia Viajar Melhor Como estão sendo os voos internacionais que chegam a Argentina? Ainda há muitas restrições e medidas de segurança que você pode nos contar?

R: A fronteira do país está completamente fechada. Qualquer voo internacional são voos específicos com repatriados e altamente controlados ou de profissionais de saúde, de carga e logística a pedido do governo. O governo argentino reavalia a situação a cada duas semanas. Ainda não há data certa para o retorno dos voos internacionais.

Guia Viajar Melhor Quais locais e atrações do sul da Argentina as agências estão priorizando neste momento?

R: No momento não existe turismo na região patagônica. As estações de ski e os centros invernais se dizem preparados para a reabertura, com protocolos definidos e todos os serviços de preparo e manutenção em dia. Mas não há data de reabertura sequer para os residentes. Nós, como agência de turismo em Bariloche, não estamos vendendo absolutamente nada. Estamos preparados para quando a reabertura aconteça, mas neste momento nos dedicamos quase que exclusivamente a informar os futuros turistas brasileiros sobre a situação atual e ajudá-los a planejar a viagem a Bariloche nesta nova realidade. Nossa preocupação no momento é informar com transparência e humanidade. 

Como poderemos saber se empresas e fornecedores vão sobreviver a esta situação? Recomendamos o gesto solidário com o turismo de adiar e não cancelar, mas não recomendamos fazer novas reservas agora. Todos estão passando por dificuldades econômicas e muitas incertezas. E nesse momento toca mais aos governos ajudarem empresas e cidadãos. Uma ajuda insuficiente agora em nome de uma pseudo responsabilidade fiscal vai custar muitas vidas de pessoas e empresas e vai se mostrar muito irresponsável até mesmo em termos fiscais no futuro. Menos empresas, menos trabalhadores, menos vendas, muito menos arrecadação. É uma relação de perde-perde.

Nós somos uma agência de turismo especializada em Bariloche. Bariloche é cheia de atrações ao ar livre e possíveis roteiros alternativos. Mas, sinceramente, acho que o tipo de atração é menos importante na nova normalidade do que a forma como o turista vai ser atendido. Não voltaremos a supermercados, farmácias, academias, restaurantes readaptados? Não voltaremos às ruas e transportes públicos?

A nova normalidade precisa ser segura em todos os ambientes, indoor ou outdoor. Precisa de protocolos e de adaptações. O turismo massivo pode até voltar, mas não será mais uma boa prática. As grandes agências e operadoras de turismo vão precisar se adaptar à nova normalidade. De um modo geral, acreditamos que seja vital aos profissionais do novo turismo terem, sim, mais especialização, e muito mais domínio e controle dos destinos oferecidos. Isso já era uma necessidade antes da pandemia.

Guia Viajar Melhor Poderia dizer quais os principais cuidados que estão sendo tomados em relação à hotelaria, restaurantes, visita e atrações, etc?

R: A Argentina, mesmo com todas as fronteiras fechadas e sem previsão concreta para reabertura do turismo internacional, tem feito bem o dever de casa. O governo argentino estabeleceu protocolos específicos para diversas áreas do turismo e estes protocolos foram complementados em novos guias elaborados pelas associações específicas, de hotéis e restaurantes, agências de viagens, aviação, aeroportos, parques nacionais, levando em conta também os manuais internacionais da Organização Mundial do Turismo, IATA, World Travel & Tourism Council etc. 

Já está muito claro tudo que temos que fazer para quando a reabertura aconteça e nisso estamos muito seguros. A vantagem de uma reabertura gradual também é essa. Ir ensaiando e ajustando o turismo e o lazer, a partir das fases locais, regionais, provinciais até o início da progressiva reabertura internacional, que já começou na Europa e Ásia, por exemplo.

Guia Viajar Melhor Por que um turista brasileiro deve incluir a Argentina como destino assim que tudo estiver normalizado?

R: A Argentina, assim como o Brasil, tem atrações tão vastas e diversas como se estivéssemos falando de um continente. Paisagens e climas muito diferentes. Só em Bariloche essa variedade já é enorme. Os brasileiros conhecem mais Bariloche como um destino de neve, mas precisa descobrir que Bariloche é a Capital Nacional do turismo de natureza e aventura. No verão é maravilhoso. 

Bariloche fica dentro de um parque nacional, numa região geográfica muito estratégica. Temos a Cordilheira dos Andes com suas majestosas montanhas, mas também estamos nas regiões de lagos, com belíssimos vales, lagos cristalinos, bosques paradisíacos e uma flora e fauna diversa. Bariloche está na Patagônia, onde a maior parte do território é tomado pela estepe, lugar também belíssimo e fascinante. E muito pouco conhecido pelos brasileiros. Some-se a isso tudo, o fato de que temos quatro estações bem definidas e que mudam consideravelmente o clima e a paisagem. 

O brasileiro pode vir muitas vezes a Bariloche, em diferentes épocas, e a cada vez será uma viagem muito diferente e com seus encantos particulares. Se no inverno você pode encarar temperaturas negativas, no verão pode ir a praia de lagos e encarar 30 graus de calor. Sempre pegando um friozinho delicioso à noite.

Guia Viajar Melhor O que os turistas brasileiros que desejam visitar o sul da Argentina depois da pandemia podem esperar?

R: Diante de toda responsabilidade e preparo que temos visto do governo, população e setor privado, acredito que o turismo pós-pandemia na Argentina será dos mais seguros. Nessa nova realidade, confiança e transparência serão tudo, serão a nova moeda. E você quer viajar para um lugar que mostre preparo, organização e respeito às regras sanitárias e isso não depende só do governo e do setor privado, mas também da população, que são os principais anfitriões além de stakeholders no turismo. 

Em Bariloche isso é ainda mais verdade. Aqui recebeu o apelido de ‘Brasiloche’. O brasileiro é muito querido aqui. O maior público turista de Bariloche é doméstico, principalmente de Buenos Aires. Mas o estrangeiro que mais visita Bariloche é o brasileiro. O real aqui é moeda praticamente de uso corrente. Não temos dúvidas de que será uma grande alegria e felicidade para os barilochenses poderem escutar novamente os diversos sotaques brasileiros pelas ruas de Bariloche.

Guia Viajar Melhor  Como a agência está se preparando para receber os turistas brasileiros assim que a situação estiver controlada? Há planos de disponibilizar itens de segurança individual como máscaras, álcool em gel e outros?

R: Vamos seguir estritamente os protocolos sanitários já definidos pelo ministério do turismo, associação de agências de viagens e turismo da Argentina e a OMT. Álcool gel, máscaras obrigatórias, divisórias, distanciamento social mínimo, termômetro contactless (pensamos até em oxímetro), digitalização de tudo que for possível e uma coisa que sempre foi uma característica nossa muito forte: o atendimento online minucioso. 

A gente faz de tudo para que o passageiro entre na agência já muito qualificado pelo atendimento que acontece ainda no Brasil via online e que se desenvolve numa relação muitas vezes de vários meses. Outra ação que já fazíamos e que queremos aprimorar é enviar coordenadores turísticos aos hotéis para evitar aglomeração na agência, oferecendo um atendimento ainda mais exclusivo e pessoal.

Guia Viajar Melhor Você tem recebido solicitações de turistas brasileiros para viagens no final deste ano ou em 2021? Em caso positivo, poderia informar quais são as perguntas mais comuns nesse primeiro momento?

R: A gente brinca que é muito verdade a afirmação de que “Somos brasileiros e não desistimos nunca”. As perguntas que mais escutamos ultimamente são “será que consigo viajar em julho?”, “tenho passagem para agosto, será que já terá reaberto a fronteira?”. Turistas com passagem marcada ou não para julho, agosto, setembro nos perguntam constantemente sobre a reabertura. Eles sempre têm aquele fiozinho de esperança de que ainda pode rolar. De outubro até o fim do ano também. Não tenho dúvidas de que se estivéssemos vendendo, muitos comprariam. 

Outra tendência muito forte que percebemos foi que diante da impossibilidade de viajar no momento, o brasileiro curte sonhar esse sonho da viagem adiada. Não é à toa que estamos fazendo duas e até planejando três lives por semana e com nossas redes sociais extremamente movimentadas e engajadas. Nunca trabalhamos tanto na vida na produção de conteúdo para os nossos canais: textos, vídeos, fotos, lives. Até o atendimento à nossa comunidade de seguidores continua a mil. Muitas perguntas respondidas todos os dias. É impressionante como em época de alta temporada de inverno que não pôde acontecer, estamos ainda mais próximos dos nossos seguidores e passageiros. Ficando amigos mesmo. E é por isso que o que fizemos foi entender esse comportamento humano e nos humanizarmos ainda mais. 

Com zero vendas, convidamos todos os nossos seguidores a acompanhar o inverno de Bariloche que está lindo e irem sonhando com a gente esse sonho que em breve vai ser tornar realidade. Esse relacionamento intensificado com os nossos seguidores fez a gente perceber que estávamos no caminho certo e nos empurrou ainda mais para nesse sentido de informar com transparência, experiência, especialização e, sobretudo, humanidade e proximidade. Esta será a principal virtude do novo turismo porque será a demanda do novo turista.

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